segunda-feira, 15 de abril de 2013

GIRAR SEM-ABRIGO PELAS RUAS DE COIMBRA

RONDA NOCTURNA DA EMIS DISTRIBUI, ÀS QUARTAS-FEIRAS, SUPLEMENTO ALIMENTAR À POPULAÇÃO SEM-ABRIGO, QUE ESTÁ ESPALHADA UM POUCO POR TODA A CIDADE

A noite está fria. Não tão fria como outras que este Outono já teve. A chuva cai de forma pouco persistente. Ainda ssim, molha e, sobretudo, arrefece. É quarta-Feira. O relógio já passa das 22h. É dia e hora da Equipa Móvel de Intervenção Social (EMIS), da Câmara de Coimbra percorrer as ruas da cidade com o propósito de distribuir suplemento alimentar à população sem-abrigo. É assim todas as quartas-feiras. Nos outros dias, de segunda a sexta-feira, outras instituições assumem o giro que passa, entre outros locais, pela Rua da Sofia, Av.Fernão de Magalhães e Av.Emídio Navarro.
Ospontos de paragem estão sinalizados. A ronda nocturna sabe por onde se espalha esta franja de população. Por isso, há locais obrigatórios para parar e um circuito para obedecer. Com a noite toda pela frente e o frio e a chuva como companheiros de mais uma madrugada de Dezembro, importa confortar quem, dentro de pouco tempo, vai estender o corpo algures por aí, num qualquer recanto da cidade conhecida por ser dos estudantes.
A quentura do café e do leite ajudam a agasalhar o frio, mas é a sopa "mais reforçada" que, distribuída a horas nocturnas, permite passar a noite com algo substancial na barriga, prolongando assim o engano da fome. "Nesta altura do ano damos uma fruta mais forte, mais rica em hidractos de carbono",  revelou Maria João Castelo Branco, vereadora da Câmara de Coimbra com o pelouro da Acção Social, agradecendo a confecção da sopa às Cozinhas Económicas Raínha Santa Isabel.
Uns chegam sós. Outros vêm acompanhados. Uns são sem-abrigo por opção. "É uma filosofia de vida", ouve-se. Outros, porque as circunstâncias da vida para ali os empurram. "Já tive uma vida boa", escuta-se. Uns não temem mostrar-se, dando mesmo o seu nome e permitindo fotografias. Outros optam por não aparecer nos registos fotográficos e reservar para eles próprios a verdadeira identidade. (...)
"Ao sábado e ao domingo, vamos ás carrinhas que nos dão comida". A higiene pessoal é feita no Rancho Folclórico das Tricanas de Coimbra, onde funciona o espaço de banhos públicos, resultado da parceria entre as Associações Integrar, a Câmara de Coimbra e o rancho de Coimbra. Mas "é preciso pagar 20 centimos". Por isso, anda a "indicar o caminho dos carros"."É melhor do que andar a roubar", acrescenta de pronto, antes de reafirmar: "Nunca pensei estar assim. Às vezes penso em matar-me". Pai de duas meninas, de quatro e dezasseis anos, cada uma de sua mãe, Manuel Teixeira, divorciado, confidencia que com a mais velha fala "poucas vezes", mas com a mais nova fala "algumas vezes".

João henriques, in Diário de Coimbra, 12-12-2012