terça-feira, 25 de outubro de 2011

Coimbra pensada após três forais

Ainda nas comemorações dos 900 anos da fundação de Coimbra, a ANAI aproveita para trazer à Casa Municipal da Cultura uma série de catedráticos para olharem a história da cidade. “Concelho de Coimbra – marcos da sua génese”, foi a primeira conferência e serviu para se redescobrirem os documentos que a fundaram: os forais.

A Universidade do Tempo Livre, uma atividade da ANAI (Associação Nacional de Apoio ao Idoso) apresentou no passado dia 20, na Casa Municipal da Cultura, a Cátedra "Sousa Fernandes". Esta cátedra, para além de homenagear o médico conimbricense, tem como objetivo a realização de uma conferência na última quinta-feira de cada mês. Cada conferência será integrada num ciclo, com um assunto previamente pensado. Este ano, o tema escolhido teve como finalidade o cruzamento com as comemorações dos 900 anos do foral da cidade. Assim, o mote "Olhar Coimbra" serviu de pretexto para convidar a catedrática Maria Helena da Cruz Coelho a falar do "Concelho de Coimbra – marcos da sua génese".

"Pensar Coimbra, em torno de Coimbra", foi assim que a professora Maria Helena prendeu a atenção do público. Segundo a investigadora as memórias que hoje se têm de Coimbra são construídas sobre raízes milenares. É necessário recorrer aos documentos factuais de antigamente para perceber a história de qualquer cidade. Coimbra não é exceção, é sim um dos melhores exemplos para o explicar. Foram várias as vezes em que Maria Helena da Cruz Coelho evidenciou uma "grande interação entre a história de Coimbra e a história de Portugal".

Coimbra depois de três cartas foraleiras

São os documentos guardados em arcas com três chaves - para proteção do inimigo - que fundam a história de Coimbra e que mostram a origem de muitas potencialidades que hoje nela vemos.

Foi a 26 de maio de 1111 que o Conde D. Henrique concedeu o primeiro foral à cidade de Coimbra, depois de esta estar sob a tutela de Fernando Magno. Ainda em 1085, Fernando VI ratificou os privilégios aos homens da cidade. Mas só em 1111 é que D. Henrique entrega oficialmente a carta foraleira a Coimbra. Este foral, para além de afastar os funcionários francos que na altura rodeavam o reino, conseguiu instituir em Coimbra "um grande reforço militar, social, económico e jurídico".

Em 1128, Coimbra ganha uma nova dimensão, pois passa a ser a cidade da corte, "a cidade do poder central", uma vez que foi a escolhida para D. Afonso Henriques se fixar. Mais tarde, em 1145 os costumes da cidade coimbrã são fixados. Surge um documento em que se tabelam os preços dos produtos da cidade, em que se regulam as vendas. Segundo a historiadora, este documento prova uma "preocupação com o artesanato e o comércio que ainda hoje se denotam na pujante vitalidade comercial e produtiva da cidade".

Em maio de 1179, D. Afonso Henriques atribuiu um novo foral à cidade. Neste documento Coimbra é reconhecida como "um concelho urbano perfeito, com os mais diversos privilégios". Sublinhando de novo, o forte papel comercial com que Coimbra era reconhecida. Depois de em 1217, D. Afonso II ter confirmado o foral anterior, a 4 de agosto de 1516 D. Manuel concede um novo foral à cidade, onde é notório que "Coimbra continua a atrair a atenção da corte".

Homenagem ao médico solidário
Antes da referida conferência, o presidente da ANAI, José Ribeiro Ferreira, não conseguiu esconder a emoção nem poupou os elogios quando falava do médico Sousa Fernandes. Para além da instituição da cátedra foi também apresentado um livro biográfico de homenagem ao médico e ao "homem que muito fez por Coimbra", relembra o presidente da associação. Também a Câmara Municipal de Coimbra (CMC) marcou presença nesta conferência, na pessoa da vereadora da Ação Social, Maria João Castelo Branco. "O lugar do idoso é o lugar do sábio, inserido na comunidade em geral", diz a vereadora para uma plateia maioritariamente sénior.
A próxima conferência ainda integrada no ciclo "Olhar Coimbra" terá lugar, novamente na Casa Municipal da Cultura, no dia 24 de novembro, às 18 horas. Desta, o tema será "A República e a Universidade" e conta com a presença do Professor Luís Reis Torgal.

Ana Morais in A Cabra, 23 de Outubro de 2011